Roberto Landell: um brasileiro antes de Marconi
ROBERTO LANDELL: UM BRASILEIRO ANTES DE MARCONI
ROBERTO RODRIGUES
Radioamador
PY8JS
Em todas,
ou quase todas as enciclopédias, o italiano Guglielmo Marconi aparece, em 1896,
como o "pai do rádio". Mas, em 1893, portanto 3 anos antes, um
brasileiro patenteava em seu país um aparelho de sua invenção, que transmitia à
distância a voz humana, as notas musicais e os ruídos.
O
brasileiro foi o padre Roberto Landell de Moura, nascido em Porto Alegre/RS, a
21 de janeiro de 1861 e falecido em Porto Alegre,RS, a 30 de julho de 1928,
desprezado, incompreendido, repudiado pelos próprios superiores religiosos e
apontado por todos como louco e lunático.
Ele era
o 39 filho dos 14 do casal Inácio Ferreira de Moura e Sara Mariana Landell de
Moura. Cursou o Colégio dos Jesuítas em São Leopoldo-RS, transferindo-se em
1879 para o Rio de Janeiro, de onde, juntamente com seu irmão Guilherme, seguiu
para Roma, ingressando no Colégio Pio Americano e freqüentando a Universidade
Gregoriana, estudando Química e Física. Apaixonado por esta última, a ela
dedicou-se de corpo e alma, começando a desenvolver a sua teoria sobre a
"Universidade das Forças Físicas e a Harmonia do Universo".
A 28 de
novembro de 1886 foi ordenado sacerdote, regressando ao Brasil, e indo residir
no Rio de Janeiro. Nomeado coadjutor do capelão do Paço Imperial, Roberto
Landell mantinha com D. Pedro II longas palestras sobre Ciência.
Em 1887
esteve em Porto Alegre e a seguir na cidade de Uruguaiana-RS, após o que foi
transferido para Campinas-SP. Ali, em 1893, incrementou mais ainda suas
experiências, as quais realizava em todos os momentos disponíveis do seu ofício
religioso. Depois de várias experiências, chegou a conclusão de que "todo
o movimento vibratório, que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido
através de um condutor, poderá também ser transmitido através de um feixe
luminoso e, por isso mesmo, poderá ser transmitido também sem o auxílio
deste".
Em 1893
sua idéia era absurda, mas hoje sabemos que sua teoria era certa e que os
astronautas conseguiram transmitir a voz humana através do raio Laser.
Empolgado
com o que descobrira, e com a certeza de sua descoberta, Roberto Landell
escreveu tudo, minuciosamente, passando horas do dia e noites inteiras naquele
improvisado laboratório, que era um cantinho escuro e úmido de sua casa
paroquial. Em suas anotações do próprio punho, expostas ainda hoje em dia em
Porto Alegre, pode-se ler que "todo o movimento vibratório tende a
transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e uniformidade de
seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos que se opuserem
a sua marcha e produção".
Todas as
suas teorias foram empregadas mais tarde, por outros, principalmente na
modulação de ondas para a radiotransmissão e na emissão de ondas
"entretidas", ondas contínuas de freqüência constante.
Provada
a sua teoria e convencido de que seria praticável, Roberto Landell começou a
construir o seu primeiro invento: um aparelho que transmitia e recebia a voz
humana, sem nenhum fio entre o transmissor e o receptor. O trabalho foi intenso
e cansativo, sem ajuda de ninguém, muito pelo contrário, encontrando
deficiência de material, chegando às vezes a fabricar ele próprio várias peças
desejadas.
Quando
finalmente ficou pronto, Roberto Landell sentiu-se como Miguel Ângelo depois de
haver terminado a estátua de Moisés, que era tão perfeita que só faltava falar,
como disse o próprio mestre. Mas o aparelho da Landell falou mesmo. Era o ano
de 1893. O assombro foi geral e a incredulidade popular chegou ao auge, ouvindo
aquele pequeno aparelho sem fios falar. As próprias autoridades eclesiásticas
ficaram receosas com a sanidade daquele padre que inventava semelhantes coisas
absurdas. Porém o assombro de seus superiores chegou ao limite, quando Landell
declarou que "com um, movimento vibratório tão extenso quanto a distância
que nos separa desses outros mundos que rolam sobre as nossas cabeças ou sob os
nossos pés, eu farei chegar até lá a minha voz".
Passaram-no
a considerar louco, impostor, bruxo, padre renegado e até espírita. O fanatismo
contra o inventor foi tão grande que em sua ausência, o povo arrombou sua casa
paroquial e quebrou todos seus inventos prontos.
Porém
Landell não desistiu. A duras penas reconstituiu seu laboratório, consertou os
inventos danificados e construiu outros. Entre os novos figurava o
"telauxiofono", que ele explicava em suas anotações ser "a
última palavra, a meu ver, sobre a telefonia com fio, não só pelo vigor e
legibilidade com que transmite a palavra, mas também porque com ele se obtém
todos os efeitos do telefone "altoparlatore...", bastando um só
transmissor, por maior que seja o número de concertantes".
Esse
aparelho, ele o apresentou ao público durante uma demonstração realizada no
Morro de Santana, em São Paulo, juntamente com outros inventos seus, que foram:
·
Caleofono,
um aparelho com fio, apropriado para comunicações internas nos escritórios, que
hoje em dia é o interfone;
·
Anematofono,
"aparelho sem fio, com o qual obtém-se todos os efeitos da telefonia
comum, porém com muito mais nitidez e segurança, mesmo com ventos fortes e mau
tempo". Em suas anotações, Landell concluía: "E admirável este
aparelho pelas leis inteiramente novas que revela!";
·
Teleteton,
"uma espécie de telegrafia fonética com o qual, sem fio, duas pessoas
podem se comunicar, sem que sejam ouvidas por outro;
·
Edifono,
"aparelho que serve para dulcificar e depurar, das vibrações parasitas, a
voz fonografada, reproduzindo-a ao natural", (o hi-fi de nossos dias).
A
demonstração pública desses seus inventos foi testemunhada por elevado, número
de pessoas e autoridades, entre as quais Mr. C.P. Lipton, cônsul inglês. Finda
a demonstração e como ninguém por elas se interessou, Roberto Landell sentiu-se
abater. O desgosto que estampava na face era enorme e seu coração estava
amargurado pela indiferença das autoridades. Desesperado, endereçou uma carta
ao cônsul inglês Lipton, com todos os detalhes de suas invenções, e na
correspondência as oferecia ao governo britânico, com a condição de que fosse
criada e mantida pelo governo inglês uma instituição de amparo e de educação
para os filhos "desses bravos que têm sucumbido nos campos desta terrível
pugna, e com a condição de que me dêem o necessário para viver e para continuar
com os meus estudos e experiências científicas", concluía Landell.
Ignora-se
se obteve resposta do cônsul. Acredita-se que não, pois, em julho de 1901,
Roberto Landell embarcou para os Estados Unidos com a finalidade de patentear
seu invento "Telégrafo sem Fio". Pretendia ficar apenas 6 meses,
porém demorou-se 3 anos e meio, em virtude de as autoridades norte-americanas
haverem exigido um modelo da invenção. Diante disso, teve de construí-lo em New
York, com imensas dificuldades, chegando a passar necessidades e humilhações.
Nesse ínterim foi procurado por emissários de uma companhia local, os quais lhe
ofereceram comprar todos os seus inventos por quantia irrisória e a condição de
que, ao serem fabricados pela ofertante, teriam patentes norte-americanas.
Roberto Landell repudiou a oferta graciosa e, daí em diante, passou os piores
dias de sua vida, encontrando boicote por todos os lados.
Finalmente,
a 4 de outubro de 1901, conseguiu protocolar no Comissariado de Patentes dos
EUA o seu requerimento de nº 77.576, para a patente do "Telefone sem
Fio". Mas só em 1904 foi-lhe concedida a almejada patente, a qual tomou o
nQ 775.337 e, no mesmo ano, obteve a patente de nº 775.846, para o
"Telégrafo sem Fio", que fora requerida em 1902, a seguir a patente de
nº 771.917, para o "Transmissor de Ondas".
Na
documentação apresentada ao Comissariado de Patentes o inventor brasileiro
anexou gráficos, desenhos e explanação detalhada de suas invenções e
descobertas. Nessa documentação Roberto Landell informava que "utilizava
selênio, centelhadores", e pedia prioridade para o emprego de uma grade
que, junto com uma lâmpada entre 3 eletróides "seriam os princípios da
válvula fundamental na radiofonia". Mais tarde, em 1907, o mundo tomava
conhecimento que essa lâmpada fora oficialmente inventada pelo norte-americano
Lee de Forest...
Em suas
anotações pormenorizadas apresentadas às autoridades norte-americanas, Roberto Landell
citava as ondas de Hertz, as caixas de Faraday, os tubos de Crookes, a bobina
de Ruhmkorff, demostrando ser um homem atualizado em Física, porém nunca citou
Marconi.
A
propósito, certa feita fora instado pela imprensa para dizer alguma coisa a respeito
do registro da patente feita por Marconi do "Telégrafo sem Fio", 3
anos após haver inventado seu aparelho. Disse então que "poderia ter
havido várias formas de concebê-lo mas, o que reivindicava era a sua
aplicação", e jamais acusou ninguém, respeitando o trabalho de seus
concorrentes.
Não
conseguindo demonstrar a aplicação de seus inventos, desiludido retornou ao
Brasil, onde tinha esperanças de fazê-lo, e dar à terra natal o privilégio de
fazer funcionar seus inventos e pôr em pratica tudo aquilo que descobrira.
Com essa
finalidade solicitou a Rodrigues Alves, então presidente da República, dois
navios da guerra nos quais iria fazer demonstração de todos os seus inventos já
patenteados nos EUA e de outros ainda inéditos. A Presidência da República enviou
um assessor, cujo nome a história não gravou,a fim de conversar com Landell,
para saber a que distância o inventor desejaria as embarcações na baía de
Guanabara. LandeIl respondeu textualmente: "Em alto mar, na maior
distância possível, quantas milhas pudessem, porque meus aparelhos podem
estabelecer comunicação com quaisquer pontos da Terra, por mais afastados que
estejam; aliás, isto presentemente, porque, futuramente, servirão até mesmo
pare comunicações interplanetárias", concluiu Landell ao espantado
assessor presidencial.
O
funcionário ministerial de Rodrigues Alves, ao retornar, informou ao presidente
simplesmente isto: "Excelência. O tal padre á positivamente louco!"
E
Roberto Landell não teve os navios para provar suas teorias, ao contrário de
Marconi, a quem o governo italiano cedeu os navios por ele solicitado para as
suas experiências hoje conhecidas por todos.
Infelizmente
nenhum livro especializado sobre inventores cita ao menos de leve o padre
Roberto Landell de Moura como o inventor do transmissor de rádio, muito embora
seu aparelho houvesse surgido antes e fosse mais avançado do que aquele
rudimentar "telégrafo" patenteado por Marconi, na Inglaterra, a 2 de
junho de 1896, após haver conseguido transmitir, em código morse, a uma
distância de 5 qui1ômetros, o que lhe valeu a prioridade da patente.
Mas os
méritos pertencem, na verdade, ao brasileiro Roberto Landell que, em 1893,
portanto, 3 anos antes da experiência de Marconi, transmitiu pelo seu aparelho,
instalado em São Paulo, a uma distância de 8 quilômetros, não
sinais do Código Morse, porém sons feitos de palavras articuladas! Contam ainda
os livros especializados que a primeira transmissão de música através do
"telégrafo sem fio" foi realizada por Marconi, em 1921.
Porém,
20 anos antes, em 1900, Roberto Landell transmitiu a grande distancia, pelo seu
aparelho "Telefônio", a "voz, as notas musicais e os ruídos
apenas sensíveis ao ouvido, como o tique-taque do relógio", conforme
contam documentos a seu respeito. Aliás, foi nesse ano de 1900 que Landell
conseguiu patentear no Brasil, sob o nº 3.279, a sua invenção
"Telefônio" que, em 1904, os EUA patentearam.
Nos
aparelhos atuais, há os princípios fundamentais do Padre Roberto Landell de
Moura adotados para válvulas, microfones, intercomunicadores, televisão e
sistema de microondas. Positivamente, existiu um brasileiro antes de Marconi!
Nota:
Guglielmo Marconi era um físico italiano, nascido em Bolonha, no ano de 1874, e
falecido em Roma, em 1937. Desde sua juventude interessou-se pelas
comunicações, havendo utilizado o oscilador de Hertz, a antena de Popov e o
coesor de Branly nas suas experiências para conseguir O que desejava: a
telegrafia sem fio.
Em 1896
finalmente obteve êxito, realizando uma transmissão telegráfica entre dois Pontos
distantes cada um a centenas de metros do outro. A maior parte de suas
experiências ele as realizou na Inglaterra, onde, em 1901, conseguiu aumentar a
distância de suas transmissões telegráficas, enviando uma mensagem da Cornualha
à Terra Nova. Marconi foi o ganhador do Prêmio Nobel de Física do ano de 1909.
(Obs. do
autor: - A primeira edição desta obra foi publicada no Rio de Janeiro, pela
"Expressão e Cultura", em outubro de 1979. Em 25.10.81, o Conselho
Federal da LABRE reuniu-se e aprovou a escolha do Padre Landell de Moura como o
"Patrono dos Radioamadores do Brasil". A proposta foi de autoria do
radioamador José Gomes da Silva, de indicativo PY2-JGS, e que contou com o
apoio de Hugo Adelino da Silva, de indicativo PY2-DSQ, na época Diretor da Seccional
da LABRE de São Paulo).
(in “Radioamadorismo – O mundo em seu
lar”, Ed. CEJUP, 3[ ed.1992, págs. 366/371)

TEm alguma repetidora ativa em Ananindeua? Sou novo no radioamadorismo. PU8YPA e gostaria de saber5 se vc consegue atracar alguma repetidora. Eu consigo a de Belém 146.760 -600 mas é muito longe
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